Como era amar sem celular? Quem viveu esse tempo vai se identificar.
- ALEX VENDRAMETTO
- 19 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 3 de jan.
Se para quem nasceu e cresceu em tempos "desconectados" já é difícil imaginar como fazíamos para viver, imagina contar que dias assim existiram para a galera que não conhece o mundo sem redes sociais.
Por incrível que pareça a gente viajava, reservava hotel, fazia movimentações bancárias, jogava, trabalhava, se relacionava e levava a vida sem depender de internet.
Como era possível? Nossa...nem sei mais.
Mas e a azaração? Como era fazer alguém notar a gente sem ter ao menos "um stories" para poder contar?
DEZESSEIS narra a história de um amor menino, num tempo sem internet, sem redes sociais e sem celular, quando a melhor estratégia para ser notado estava em insistir no "acaso" e a grande aliada na missão era uma velha bicicleta.
Esse poema surgiu ao imaginar o quanto de mim ainda pode estar incrustado nas ruas das casas dos meus amores, no interior de São Paulo. Um exercício de arqueologia em busca de relíquias emocionais que existiram nos primórdios da humanidade...lá pelos anos 80. X )))
DEZESSEIS
Lembra daquela rua?
Sim, a rua da casa que foi sua.
Sabe ali na guia rebaixada?
Lá tem minhas camadas.
Naquele asfalto foram gastos
oitocentos pneus de bicicleta e
novecentas e cinquenta sapatos.
Fora os trilhões de fios de cabelo tombados
na tentativa de parecer ajeitado,
caso você surgisse...
Tem também as casquinhas de ferida. Toneladas.
Todas arrancadas em expectativas angustiadas,
de que pela janela me visse
e sorrisse.
Sei que não enxerga
essas coisas que te digo.
Tudo bem,
nem ligo.
Elas são mesmo invisíveis ao olhar imperito.
Mas antiquários como eu,
tarimbados em paixão,
certamente que verão,
de cara,
o que nunca esperei que visse.
Relíquias de um amor menino,
incrustadas num chão de rua que,
para os leigos,
é só um pedaço de pixe.