Entenda como a poesia me ajudou a superar os piores perrengues emocionais.
- ALEX VENDRAMETTO
- 4 de dez. de 2024
- 3 min de leitura

Ler é bom e faz bem. E ler poesia tem um poder terapêutico na nossa vida.
É muito provável que você nunca tenha parado para pensar nisso. Para mim foi uma descoberta recente.
Olhando para trás vejo que nos momentos emocionais mais complicados da vida, encontrei apoio na poesia. Não que eu me desse conta disso.
Atribuia aquele alívio ao fato de sempre ter curtido leitura poética. Os versos deram voz à coisas que eu sentia por dentro e não sabia como expressar.
As vezes nos livros, outras nas músicas e nos muros. É bacana demais dar de cara com uma frase que traduz tudo o que a gente tá sentindo naquele momento e não consegue explicar.
Você não imagina quantas vezes uma frase escrita num muro salvou meu dia. Primeiro por ter a ver com motivo de eu estar sofrendo, depois por dar voz à minha dor e por me fazer sentir que eu não estava sozinho. Afinal o autor daquilo, certamente que passou por perrengue igual.
Como escrever sempre foi a ferramenta do meu trabalho, com o tempo passei a fazer poesias. Era uma coisa só minha, que considerava um passatempo.
Durante anos preenchi cadernos e mais cadernos com meus versos, mas sem dar muita importância. Com as mudanças da vida meus cadernos foram ficando para trás, assim como os livros de poesia que eu lia.
Achei que a maturidade havia me ensinado a passar por cima dos problemas de alma. Imaginei que exercer um olhar pragmático sobre as coisas que me cercavam seria suficiente para estar blindado, resolvido e pronto pra tudo.
Até que chegou o dia pelo qual jamais esperei. Do nada ele aconteceu. Foi como se uma bomba atômica explodisse debaixo dos pés, abrindo uma cratera que me levou em queda livre para as profundezas da treva emocional.
Em poucos segundos fui de um momento sublime para o porão do subsolo do inferno. Fiquei em pedaços.
Aos poucos colei meus cacos. Digamos que meu corpo conseguiu sair do buraco e seguir em frente. Mas a alma, tadinha... essa permaneceu lá embaixo.
Tentei terapias, cartomantes, meditação, rezas, incensos. E tudo isso ajudou muito, mas nada o suficiente.
Era tipo doença crônica. Depois de um tempo de melhora a tempestade de mágoa voltava, com a mesma potência de antes.
Coração peludo, enrolado em arame farpado. Autoestima estilhaçada. Confiança? Já não tinha em mais nada.
Pra encurtar a história, era um caso perdido. Até reencontrar a poesia.
Voltei aos versos em desespero por não conseguir acalmar aquele desassossego.
Sentei na frente do computador e comecei a escrever. Foi tal qual erupção.
Quando vi o tanto de coisas colocadas para fora, entendi que estava para explodir.
É o efeito de puxar um fio de meada. Junto com a tal mágoa específica vieram outros sentimentos estrangulados, silenciados, presos pela vida inteira.
Meu extravasamento rendeu uma biografia poética que virou um livro e teve efeito de exorcismo.
Deixa ver como posso fazer uma comparação...o que eu sentia talvez tenha equivalência com carregar uma mochila cheia de pedras pela vida afora, sem nem se dar conta disso.
Pelo caminho, todos os dias, novas pedrinhas (e montanhas) foram adicionadas à mochila. De tão acostumado com o peso, nem notava os acréscimos na carga que para todos os efeitos já era parte de mim.
Pois é. A poesia me despregou dessa mochila. Somente ao ficar livre do peso consegui percebe-lo. Pude ter a dimensão da quantidade do tanto de emoções estancadas que tinha e nem sabia.
Para mim voltar a escrever poesia foi desatador. E o melhor de tudo está em finalmente ter entendido o poder que os versos tem para ajudar a nos libertar.
Não importa se por nós escrita ou apenas lida. De uma coisa pode ter certeza: a poesia sempre alivia.